sábado, 19 de abril de 2008

Visões de São Paulo - Camilo Thomé

“Nos últimos anos, venho desenvolvendo uma pesquisa sobre a cidade de São Paulo e as emoções que me causam a rica variedade de configurações arquitetônicas e os acidentes da natureza. A vida em uma cidade grande como São Paulo em geral tende a provocar uma atmosfera de tensão, medo, opressão, confusão, contentamento, fascinação e mesmo deslumbramento em seus habitantes,isto se refletindo na representação que cada um tem da cidade.
A arte para mim representa uma oportunidade de usar o pretexto da realidade externa para exprimir também a realidade interna, que tende a refletir uma realidade mais geral das pessoas. Na pesquisa sobre a cidade de São Paulo, algumas situações despertam o meu interesse: o concreto (cinza-frio) das construções contrastando com o verde (quente) da vegetação, provocando um ritmo variado nas diversas configurações e ao mesmo tempo a vida nascendo apesar da concretagem.
Os viadutos, pontes, ruas, e avenidas representando os vários caminhos e oportunidades oferecidos por uma cidade grande e, ao mesmo tempo, a própria constância dos perfis regulares funciona como obstáculo.
As retas dos prédios contrastam com as curvas das árvores, represas e viadutos; o jogo abrupto das retas, curvas e linhas que se cruzam em várias direções causa uma certa confusão e expectativa que freqüentemente uma cidade como São Paulo desperta. Em termos de cor há uma certa constância cinza que contrasta com um ritmo muito dinâmico de luzes coloridas parecendo o brotar da vida apesar da opressão. Representar estes vários sentimentos provocados pela cidade tem sido minha preocupação.

Camilo Thomé 1998

Caminhantes

O ser e seus labirintos



“Esta vida está cheia de ocultos caminhos. Se o Sr. sabe, sabe; não sabendo, não me entenderá”.
Guimarães Rosa, Grande Sertão, Veredas.

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O meu trabalho trata dos conflitos que ora aproximam, ora distanciam os seres humanos uns dos outros. O individual versus o coletivo. As exigências do sujeito e aquelas do grupo. Caminhantes, peregrinos, pedestres, passantes, transeuntes: seus rumos, rotas, caminhos, descaminhos, travessias, romarias, peregrinações. O homem e seus caminhos e a rede entrelaçada formada por eles e também, as vias explícitas e outras obscuras cunhadas pelo destino.
As pessoas e seu ser – no - mundo, sua individualidade e sua diversidade na multiplicidade, seus deslocamentos e sua inércia. Forças individuais que parecem somar, ou conflitar, com o coletivo. O trânsito fugaz e, ao mesmo tempo, cheio de significantes da pessoa e seu meio, de sua transitoriedade e sua significação no mundo. Assim, são labirintos, espirais, mandalas, mosaicos, rotas urbanas, a serem percorridos pelo sujeito.

Camilo Thomé 2007

São Paulo - Passagens


Walter Benjamin refere-se a Paris como uma cidade escrita. Pode-se percorrê-la e buscar em seus capítulos um mapa dentro do mapa. A cidade se dá aos olhos, e a todos os sentidos, como pura fruição, mesmo que misteriosa.
São Paulo, não. Cidade-esboço, sem descartar o mistério, sempre reconquistada e perdida, não se concretiza à nossa frente. Como se pudesse existir uma argamassa de vapor a construí-la, densa e frágil, que ao ser observada já se desfaz. Grande Esfinge abaixo do Equador.
As xilogravuras de Camilo Thomé, me parece, enfrentam este olhar oblíquo. Mesmo que bem talhadas, recusam a impressão habitual e buscam um modo mais bruto,paradoxalmente evanescente, de se apresentar. São de uma solidez inconclusa. Paisagem sem horizonte, que de tantos não o tem,são a visão do andarilho perplexo e fascinado pelos espaços quase inapreensíveis. No Planalto de Piratininga toda a cartografia é inútil.
Cláudio Mubarac
Paris, primavera de 1999

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